domingo, 2 de janeiro de 2011

"Receita de Ano Novo"

E mais um ano começou.

Toda vez em que comemoramos a virada do ano, sempre lembro deste poema do Carlos Drummond de Andrade:

Receita de Ano Novo

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)


Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.


Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.


Acho que realmente é assim. A mudança física do calendário, embora seja acontecimento marcante em todo o mundo, é apenas um símbolo. O que importa é a mudança que se dá dentro de nós, no nosso coração e no nosso pensamento. De nada adianta mudarmos a folhinha na parede e não mudarmos nossas atitudes, nosso padrão mental, nosso comportamento no dia a dia. A renovação não tem que acontecer só externamente. Precisa acontecer de dentro para fora. No embalo, já fiz dezenas de promessas de Ano Novo, mas muitas vezes não me empenhei em cumprí-las. Ficaram só no papel. Quando me dei conta do quanto isso era também uma espécie de sabotagem comigo mesma, mudei. Passei a procurar o que realmente importava, o que era possível ser feito, e ir buscando e tentando aos poucos e ao longo dos dias. Dessa forma, me adaptei à realidade. Não tem como conseguir tudo o que se quer de uma vez, mas dá para acordar de manhã e falar: hoje vou fazer tal coisa - e fazer.


Ainda quero muita coisa. Ainda preciso melhorar em muita coisa. Tenho 363 dias só pela frente? Não. Se Deus permitir, terei muitos dias mais para seguir nesta jornada. Com cuidado, com respeito ao próximo e com paciência, o que não é facil de se ter. Mas vamos em frente. Como diz o provérbio chinês, "uma caminhada de mil milhas começa com o primeiro passo".

Feliz muitos dias novos para todos,

Celinha

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